Vinho Medieval de Ourém - Método
As vinhas, com uma área média de 2500 m2, normalmente não aramadas, têm compassos de plantação apertados com encepamentos de castas brancas e tintas na proporção necessária à produção do vinho. Possuem uma densidade de plantação superior a 4000 cepas por hectare, podendo chegar às 10.000, sendo que esta não visa uma maior produção, mas sim uma melhor qualidade das uvas produzidas.
Nas vinhas mais antigas é bastante frequente encontrar oliveiras e outras árvores de fruto como macieiras, pereiras e pessegueiros, dispersas no meio das cepas, ou em bordadura. As cepas são conduzidas em taça, com poda a talão e menos frequentemente à vara. São em tudo muito semelhantes às vinhas da Idade Média.
Nas adegas de Ourém, simples, frescas, escuras, pouco húmidas e que muitas vezes ocupam o rés-do-chão da habitação do viticultor, são utilizadas, exclusivamente, uvas das castas Fernão Pires para mosto branco e Trincadeira para mosto tinto, sendo a vindima feita, obrigatoriamente, à mão e de modo a que as uvas brancas e tintas sejam transportadas em recipientes diferentes até à adega.
As uvas brancas são prensadas em lagares e os mostos obtidos são envasilhados logo após o esmagamento, em vasilhas de madeira de modo a não exceder os 80% da sua capacidade total, onde inicia a sua fermentação (vinificação em bica aberta).
Posteriormente, as uvas tintas são desengaçadas com as cirandas e fazem, isoladamente, a fermentação com curtimenta em dornas de madeira, menos frequentemente em lagares, durante 4 a 10 dias, sendo efectuado o recalque com um rodo de madeira, no mínimo duas vezes por dia, de modo a obter mosto tinto com os parâmetros de qualidade adequados.
Praticamente no final de ambas as fermentações, o mosto tinto (20%) não prensado e com as películas, é envasilhado directamente na vasilha que já contém o mosto branco (80% da vasilha), de modo a completar o seu enchimento e a terminarem as fermentações em conjunto.
Ainda que sendo feito maioritariamente de uvas brancas muito maduras este vinho é “tinto”, “guloso” e “forte”. Tem aromas de vinho branco, que variam com o estado de maturação das uvas, bem “casados” com aromas de tinto, normalmente amora, framboesa e morango. Este método permite obter vinhos de uma extrema complexidade, macios no beber, untuosos e que preenchem a boca.
Este vinho, cuja produção é regulamentada pela portaria 167/2005, acompanha não só a rica gastronomia da região, mas também muitos pratos típicos portugueses. É excelente para acompanhar pratos ricos em azeite como o bacalhau assado com chícharos e migas, tradicional da nossa região.
A chegada do vinho medieval aos nossos dias só pode ser explicada pelas suas excepcionais qualidades e pela perfeita adaptação do método às condições edafo-climáticas de Ourém.